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Egresso supera obstáculos para alcançar espaço internacional

Willian Abraham da Silveira conta sua trajetória após passagem pelo PPG-GO e projeto com a NASA

Willian Abraham da Silveira, professor de Genômica Médica na Universidade de Salford e professor adjunto na International Space University, ingressou no doutorado em 2011 no Programa de Pós-Graduação em Ginecologia e Obstetrícia (PPG-GO) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Durante sua permanência no programa desenvolveu sua tese Genetic profile analysis of tumor stem cells in locally advanced breast cancer, com orientação do professor Daniel Guimarães Tiezzi.

Farmacêutico-bioquímico e mestre pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), experimentou durante sua jornada acadêmica momentos marcantes e desafios que contribuíram de forma decisiva para seu desenvolvimento pessoal e profissional. Em seus quatro anos de doutorado, Silveira afirma que viveu um dos períodos mais felizes e produtivos de sua vida. Porém, nem tudo ocorreu de forma linear durante sua trajetória. A primeira vez que tentou ingressar no programa não teve o sucesso que esperava.

“Quase tudo que eu planejei pro Doutorado deu errado.  A primeira vez que eu tentei entrar, eu não passei na seleção. Entrei alguns meses depois. O projeto teve que ser mudado no meio – com  minha passagem para França já agendada – porque a maior parte das amostras não puderam ser analisadas. Eu lembro claramente porque aconteceu no meu aniversário, tinha ido pra São Paulo correr as amostras e deu tudo errado. Eu ligando pro Daniel – meu orientador – contando e totalmente perdido. E ele: “Calma, Will. A gente pode fazer dessa forma aqui, ou dessa outra forma lá…”. No final a gente teve que mudar o projeto inteiro, mas ficou melhor do que a gente tinha planejado. No final deu certo”, conta Silveira.

Mesmo com alguns percalços, no início do projeto, Silveira explica que as experiências que viveu no doutorado contribuíram para sua formação acadêmica e pessoal. “Morei um ano na França por causa dele, algo que eu nunca teria feito de outra forma. Fiz amizade com gente do Brasil inteiro e com gente do mundo inteiro no Instituto na França. Isso muda alguém de uma forma profunda. Eu nunca teria a coragem de me arriscar para um pós-doutorado internacional se não tivesse feito isso com segurança no doutorado primeiro.”

A busca pela oportunidade

O interesse pela bioinformática, impulsionado pela necessidade de analisar dados de forma eficiente, levou Silveira a buscar intercâmbios e colaborações internacionais. Em um congresso do Hospital AC Camargo, uma conversa informal com o pesquisador Charles Theillet — referência mundial em pesquisas na área Genética e Oncológica — acabou abrindo uma porta importante.

“O Charles Theillet, estava tomando café sozinho sentado em um sofá depois da palestra. Eu perguntei se poderia me sentar e fazer algumas perguntas. Falei da minha necessidade de aprender as coisas que ele fazia no laboratório dele e perguntei se teria a possibilidade de eu ir e ficar alguns meses pra aprender. Ele me respondeu que três meses não interessava pra ele, mas que se eu quisesse ir pra ficar um ano, ele topava. Só precisei correr e achar financiamento. Eu fiquei preocupado de como que eu ia arranjar esse dinheiro, mas fiquei bastante surpreso que a procura era bem baixa. Tinha até incentivo do governo estadual e federal na época para os programas incentivarem o pessoal a ir para o Doutorado Sanduíche”.

Silveira diz que foi uma mistura de estar preparado, estar no lugar certo e também um pouco de sorte, mas que nada seria possível se não soubesse falar inglês. “Eu fui pra França sem saber falar francês. Eu até fiz seis meses só pra não ir zerado, mas não dava pra contar com isso. Toda a minha comunicação com o pessoal do Instituto era em inglês. Então meu conselho aqui é investir no aprendizado dessa língua. Já que sem isso, intercâmbio e colaborações não teriam acontecido”, afirma.

Mudança nos caminhos

Após o doutorado, a trajetória também foi turbulenta. Enfrentou um período de seis meses de desemprego e desafios na busca por uma vaga de pós-doutorado, o que o levou a tentar novas oportunidades internacionais. Após algumas tentativas frustradas em que muitos institutos nem chegaram a responder suas mensagens, Silveira conseguiu uma vaga de pós-doutorado na Faculdade de Medicina da Carolina do Sul (Medical University of South Carolina), nos EUA. Segundo ele, foi a melhor e pior decisão que já tomou.

“Eu não sabia que a pessoa que me contratou tinha uma longa lista de assédio moral, que havia havido uma debandada do pessoal que trabalhava pra ela alguns meses antes e que a única doutoranda que ficou, ficou por que estava pra terminar, mas estava com depressão por causa do doutorado. Na primeira semana eu vi que tinha cometido um erro, procurei ajuda e fiquei bem feliz em encontrar, com quatro semanas eu me demiti. Eu estava com uma dívida imensa já que paguei tudo do meu bolso, família emprestou dinheiro e tinha 15 dias pra arrumar um emprego novo que precisava ser na mesma universidade ou eu seria deportado.”

O desfecho foi o melhor possível. Por conta do histórico de sua pesquisa, Silveira conseguiu um outro emprego e passou a trabalhar com Gary Hardiman – referência mundial em estudos de sistemas biológicos e impactos das viagens espaciais de longo prazo — pelos próximos cinco anos e em dois países diferentes.

Quando já estava trabalhando com o Gary há um ano, Silveira conta que ele bateu na porta de seu escritório e falou: ‘Recebi um email da NASA, eles estão procurando projetos no estado. Tá interessado?’ Foi neste momento que surgiu a oportunidade de conexão através do NASA Genelab. Sua habilidade em ligar os pontos entre os dados genômicos e os efeitos da exposição ao espaço rendeu-lhe a autoria de um artigo que figurou na capa da revista científica CELL, em novembro de 2020, comemorando os 20 anos de pesquisa na Estação Espacial Internacional. Esse reconhecimento, aliado a convites para palestras internacionais e a participação em importantes projetos, consolidou sua reputação como cientista e orientador.

Conquistas e reflexões

Atualmente, Silveira é professor de Genômica Médica na Universidade de Salford e professor adjunto na International Space University. Em Salford, embora ainda esteja construindo sua área de atuação, ele já participa ativamente na integração entre o ensino de genética e genômica e a prática clínica, mantendo contato com serviços de Genômica do National Health Service (NHS) — o similar do Sistema Único de Saúde (SUS) na Inglaterra.

Na área de pesquisa, estrutura um grupo voltado para o estudo do envelhecimento e da Biologia Espacial, reconhecendo que a exposição ao espaço pode servir como modelo de envelhecimento acelerado. Paralelamente, na International Space University, Silveira atua no ensino de Biologia Espacial e Bioinformática, além de liderar iniciativas para a criação de uma rede europeia de Biologia Espacial Aplicada.

Em suas reflexões, Willian destaca a importância de aproveitar ao máximo o tempo no programa, incentivando os atuais e futuros alunos a fazer conexões, a se permitir errar e a valorizar as pessoas ao redor.

“Se eu posso dar um conselho é aproveite seu tempo no programa. Faça conexões, tente, se permita errar e valorize as pessoas ao seu redor. Eu sinto bastante falta dos meus amigos do doutorado, do pessoal da administração do PPG-GO que sempre me tratou tão bem e que eu adorava tomar café junto. E claro, invista em aprender inglês”, conclui Silveira.

Texto por Eduardo Nazaré – Assessor de imprensa da Dr. Fisiologia